Domingo, 22 de Junho de 2008

Longe de casa...

Por estes dias fez 5 meses que cheguei à Guiné... exactamente os mesmo 5 meses desde que saí de casa...

Sair de casa não significa apenas deixar o espaço físico em que vivemos... Quando se sai de casa, perde-se toda a segurança do lar, da família, dos amigos, da rotina e de todo um sistema a que estamos habituados. E, se o fazemos, e' porque somos loucos ou então porque temos fortes motivos para o fazer. Ficar longe de casa significa ficar longe de tudo o que nos da' a confiança de que necessitamos para viver o nosso dia a dia.

  Assim, quando se parte para longe, parte-se com um objectivo… com motivações… com expectativas… criamos imagens, situações, idealizamos um sonho de vida, apesar de termos plena consciência de que não será' fácil. 

Temos tendência a dizer que partimos de coração aberto, que acolheremos tudo o que recebermos em termos de cultura, atitudes, maneiras de ser, de fazer, de estar e de agir… não e verdade! Quando chegamos, apercebemo-nos da grande quantidade de expectativas que criámos, de tudo o que idealizámos… e prova disso, são as frustrações que muitas vezes temos por aquilo que vivemos não coincidir com aquilo que imaginámos viver ou que quereríamos viver…

  Por outro lado, não adianta dizer que sabemos que não será' fácil, pois não imaginamos o quão difícil poderá' ser…
Quando dizemos que sabemos que teremos momentos difíceis, em que pensamos afinal? Nas saudades? Na frustração de vermos que o nosso trabalho não tem resultados imediatos? Sim, tudo isso acontece… mas não são os momentos piores.

Com as saudades aprendemos a lidar desde que nascemos… e a frustração de não ver resultados, acaba por ser compensada pelos “resultados” que vemos noutros campos: nas relações com as pessoas, na partilha que vivemos… o pior são os outros problemas… que podem surgir por mil e uma razoes, e com que nem sequer sonhamos.
No fim de contas, são problemas semelhantes aos que temos por casa, e talvez por isso se tornem tão negativos e tão frustrantes – e' que quando partimos, achamos que deixaremos os nossos defeitos em casa, achamos que seremos perfeitos a viver num mundo perfeito… mas, surpresa das surpresas, toda a nossa personalidade vai connosco, todos os nossos defeitos nos perseguirão e nos trarão muitas complicações.

  Mas deixemo-nos das coisas menos boas… se tudo isto e' negativo, também tudo isto provoca em nos algo muito positivo:  trata-se de um profundo trabalho de auto controlo, auto conhecimento; de aprendermos a estar sos com o nosso eu, a reflectir e a meditar… e a ter muita, muita paciencia.

Todas estas dificuldades nos levam a limar algumas das nossas arestas, coisa que nunca fariamos na proteccao das nossas “casas”… de facto, temos que amadurecer muito, aprender a ter calma, a respeitar o tempo e o espaco das pessoas – mesmo que muitas vezes não coincida ou que entre em choque com o nosso.

  E depois, ha' todo um conjunto de diferencas a contemplar em tudo o que nos rodeia... o que podemos aprender e' infinito... e belo! Ha' momentos unicos, que so podemos ter “longe de casa”...
 Muita gente fala no “espirito africano” que contagia e cativa qualquer pessoa que o sinta – confirma-se. E' algo que não tem explicacao, que se sente no ar, nos cheiros, nos ritmos, nos rituais, nos sorrisos e nas paisagens... algo que inunda todo o nosso ser e nos faz sentir bem e querer fazer parte de tudo isso que nos rodeia.

Temos tendência a habituarmo-nos de tal forma ao que nos rodeia, que fazemos deste o nosso c. Por vezes e' preciso parar para olhar... para sentir...

  Aprendemos muitas coisas longe de casa, desprotegidos – aprendemos outras formas de viver, de sentir, de pensar... e aprendemos principalmente a questionar e a relativizar... aprendemos a dar valor a coisas que antes punhamos de parte... e aprendemos a viver a solidao... 

No fim de contas, e' como se nascessemos outra vez... somos como criancas a descobrir o mundo que nos rodeia... uns dias rimos com as surpresas, outros dias choramos com as quedas ou os medos... mas o que importa e' que, aos poucos... vamos crescendo...

 

 

 21 de Junho de 2008


sentido por Anjo da Noite às 20:47
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Quinta-feira, 10 de Maio de 2007

Depois... [03 Abril 2006]

Depois...

 

Depois do choque, dos rituais, dos lamentos, das lágrimas, das frases pronunciadas vezes sem conta...

Depois das emoções descontroladas, das atitudes impulsivas, dos pensamentos confusos...

Depois desses dias de dormência permanente...

Chega a hora de acordar...

Chega a hora de cair na realidade e na rotina de cada dia, que foi inevitavelmente alterada mas que continua a existir...

Pouco a pouco parece surgir algum esquecimento... mas é mentira... nunca se esquece...

Pouco a pouco parece que todos se vão esquecendo e afastando... e se estiveram lá nos momentos aparentemente mais difíceis... parece que agora fugiram...

 

A verdade é que aqueles não foram os momentos mais difíceis. Foram momentos de choque, de sofrimento, de muita dor... mas os piores... esses estão para vir... e vão-se revelando cruelmente em pequenos pormenores que a vida se encarregará de trazer...

 

Mas também é verdade que os amigos... os verdadeiros... estão lá... e se parecem esquecidos, não o estão.

Podem até esquecer-se que sofremos, ou podem parecer pensar que não sofremos... mas eles estão lá, e isso é mesmo o mais importante... é que assim podemos sempre refugiar-nos no conforto da amizade deles quando a vida nos fizer sofrer.

O problema é que queremos ser fortes... e manter o sorriso e a coragem apesar de tudo... e assim, mesmo os amigos verdadeiros acabam por acreditar que estamos bem...

 

Mas temos que fazer um esforço: deixar de ser orgulhosos e recorrer aos nossos “portos seguros” sempre que estamos mal... Sempre que a vida for cruel e nos trouxer momentos tão maus quanto nunca pensaríamos ser possível, há que amar a humildade e não ter medo de ser pegado ao colo... os amigos agradecem... e o nosso coração também...

 

Nada pode trazer de volta quem gostaríamos que a vida nunca nos tivesse tirado... mas, por outro lado, ninguém parte... há pessoas demasiado importantes para se deixarem partir assim no sopro de um segundo...

Temos que as deixar partir sim... mas a sua existência fica para sempre... no que nos ensinaram, nos momentos bons, nos momentos menos bons, nas quedas, nos sorrisos, nas gargalhadas, na cumplicidade, nos olhares, nos gestos... Em tanta coisa...

E se tudo isso pode fazer-nos chorar, sofrer, se pode trazer saudade e apertar o coração... pode também deixar um sorriso...

Um sorriso de orgulho... um sorriso de admiração... um sorriso de ternura...

E há que agarrar a vida... e simplesmente, VIVER!

Deixarmo-nos ir com quem parte é um erro... ficamos sem viver e viramos as costas a quem nos rodeia... a quem por vezes nos tira a paciência, mas por quem muito sofreríamos se nos separássemos...

 

E estamos no ponto zero: agarrar a vida outra vez...

E agarrá-la sempre com um sorriso... um sorriso que podemos extrair precisamente dos momentos e das situações que poderiam fazer-nos sofrer...

E se algum dia não conseguirmos sorrir de maneira nenhuma... não podemos ter medo de não sermos compreendidos se nos expusermos... Podemos até pensar que quem está à nossa volta não nos vai compreender... mas se não lhes explicarmos é claro que é difícil que nos compreendam...

 

Há que viver a vida sim... mas vivê-la bem... e para isso há que estarmos bem connosco e com a vida...

Por vezes pode não ser assim tão fácil estar bem... mas há que fazer um esforço... e aproveitar todas as pequenas coisas que a mesma vida nos vai oferecendo...

 

E embora se possa duvidar... há mesmo “coisas” que não acontecem por acaso:

Há sempre pessoas que estão ou aparecem na nossa vida de forma agradavelmente inesperada... há sempre a cumplicidade de um estranho num momento inesperado... há sempre um gesto carinhoso num local desconhecido... há sempre uma coincidência, uma sucessão de acontecimentos distintos que se associam... existe sempre um sorriso onde menos se espera e quando mais se precisa...

 

E dá ideia que há sempre alguém a cuidar de nós... 

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sentido por Anjo da Noite às 23:05
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