vida frágil... bela, majestosa , poderosa... mas frágil... à mercê de um sopro do vento... de uma onda do mar... de um abraço da terra...
vida intensa, valiosa... que nos permite tudo, que só por meio dela podemos alguma coisa...
que é a nossa força, o nosso alento, o nosso recomeçar a cada dia... o nosso projecto, em que tudo investimos desde o segundo em que nascemos, desde o primeiro respirar...
projecto grandioso, dispendioso, pelo qual sofremos muitas vezes, mas que é o único que nos permite também sorrir, ser feliz...
por isso se torna tão difícil quando esse projecto que é a vida de cada um, é abalado por um qualquer fenómeno... acontecimento... ou problema... é difícil ver e aceitar que esse projecto a que tudo damos possa ser posto em causa... ou mesmo em risco...
e quando isso acontece logo surgem a frustração, o desânimo, a tristeza... sentimos impossível a nossa realização pessoal... a valorização do nosso projecto...
é necessária prudência mas também um pouco de extravagância na elaboração do grande projecto que é a vida... é necessário ter consciência de que há uma aura de fragilidade a pairar sobre tudo o que nos rodeia, que por mais que pareça que está tudo bem, devemos ter consciência que no momento seguinte pode ficar tudo mal... é certo que não devemos deixar de viver a vida e continuar a investir nela ao máximo a cada segundo, mas não podemos esquecer que tudo o que nela pode ser fortaleza tem também o seu lado de fraqueza... que quanto mais intenso for o momento, e mais alto e nobre o sentimento, também maior será o sofrimento...
assim, sem medo, mas com respeito, devemos viver cada dia ao máximo... e ao máximo significa aproveitar cada toque dessa vida que nos impele, não fazendo tudo o que nos aparece pela frente impulsivamente, mas sim deliciar cada passo, cada caminho, metro por metro, e cada meta atingida, para que quando o vento soprar, uma onda se formar, ou a terra abraçar, possamos mesmo assim sorrir, por sabermos que não deixámos escapar um degrau de escada ou um milímetro de estrada que fosse, porque soubemos acompanhar a vida quando ela estava no seu auge.
Depois do choque, dos rituais, dos lamentos, das lágrimas, das frases pronunciadas vezes sem conta...
Depois das emoções descontroladas, das atitudes impulsivas, dos pensamentos confusos...
Depois desses dias de dormência permanente...
Chega a hora de acordar...
Chega a hora de cair na realidade e na rotina de cada dia, que foi inevitavelmente alterada mas que continua a existir...
Pouco a pouco parece surgir algum esquecimento... mas é mentira... nunca se esquece...
Pouco a pouco parece que todos se vão esquecendo e afastando... e se estiveram lá nos momentos aparentemente mais difíceis... parece que agora fugiram...
A verdade é que aqueles não foram os momentos mais difíceis. Foram momentos de choque, de sofrimento, de muita dor... mas os piores... esses estão para vir... e vão-se revelando cruelmente em pequenos pormenores que a vida se encarregará de trazer...
Mas também é verdade que os amigos... os verdadeiros... estão lá... e se parecem esquecidos, não o estão.
Podem até esquecer-se que sofremos, ou podem parecer pensar que não sofremos... mas eles estão lá, e isso é mesmo o mais importante... é que assim podemos sempre refugiar-nos no conforto da amizade deles quando a vida nos fizer sofrer.
O problema é que queremos ser fortes... e manter o sorriso e a coragem apesar de tudo... e assim, mesmo os amigos verdadeiros acabam por acreditar que estamos bem...
Mas temos que fazer um esforço: deixar de ser orgulhosos e recorrer aos nossos “portos seguros” sempre que estamos mal... Sempre que a vida for cruel e nos trouxer momentos tão maus quanto nunca pensaríamos ser possível, há que amar a humildade e não ter medo de ser pegado ao colo... os amigos agradecem... e o nosso coração também...
Nada pode trazer de volta quem gostaríamos que a vida nunca nos tivesse tirado... mas, por outro lado, ninguém parte... há pessoas demasiado importantes para se deixarem partir assim no sopro de um segundo...
Temos que as deixar partir sim... mas a sua existência fica para sempre... no que nos ensinaram, nos momentos bons, nos momentos menos bons, nas quedas, nos sorrisos, nas gargalhadas, na cumplicidade, nos olhares, nos gestos... Em tanta coisa...
E se tudo isso pode fazer-nos chorar, sofrer, se pode trazer saudade e apertar o coração... pode também deixar um sorriso...
Um sorriso de orgulho... um sorriso de admiração... um sorriso de ternura...
E há que agarrar a vida... e simplesmente, VIVER!
Deixarmo-nos ir com quem parte é um erro... ficamos sem viver e viramos as costas a quem nos rodeia... a quem por vezes nos tira a paciência, mas por quem muito sofreríamos se nos separássemos...
E estamos no ponto zero: agarrar a vida outra vez...
E agarrá-la sempre com um sorriso... um sorriso que podemos extrair precisamente dos momentos e das situações que poderiam fazer-nos sofrer...
E se algum dia não conseguirmos sorrir de maneira nenhuma... não podemos ter medo de não sermos compreendidos se nos expusermos... Podemos até pensar que quem está à nossa volta não nos vai compreender... mas se não lhes explicarmos é claro que é difícil que nos compreendam...
Há que viver a vida sim... mas vivê-la bem... e para isso há que estarmos bem connosco e com a vida...
Por vezes pode não ser assim tão fácil estar bem... mas há que fazer um esforço... e aproveitar todas as pequenas coisas que a mesma vida nos vai oferecendo...
E embora se possa duvidar... há mesmo “coisas” que não acontecem por acaso:
Há sempre pessoas que estão ou aparecem na nossa vida de forma agradavelmente inesperada... há sempre a cumplicidade de um estranho num momento inesperado... há sempre um gesto carinhoso num local desconhecido... há sempre uma coincidência, uma sucessão de acontecimentos distintos que se associam... existe sempre um sorriso onde menos se espera e quando mais se precisa...
E dá ideia que há sempre alguém a cuidar de nós...
Sei que estás comigo.
Estás no meu coração, e sei que estou no teu.
Não morreste... apenas o teu corpo deixou de existir.
Tu estarás para sempre vivo – na memória daqueles a quem provocaste um olhar de admiração, e no coração daqueles para quem, por qualquer motivo, te tornaste especial.
És o maior orgulho que tenho e alegra-me saber que isso ninguém pode tirar de mim.
A saudade é grande, e cresce mais a cada dia que passa... mas a lembrança do sorriso que conseguias mostrar mesmo nos piores momentos, dá-me força para sorrir também, e para viver cada dia com a certeza de que voltaremos a encontrar-nos...
Para ti Papá.
11 de Maio de 2005
a história repete-se... desta vez com uma pessoa especial por tudo o que era e por tudo o que significa para mim... e por tudo o que morreu no momento em que deixou de respirar- todas as coisas, todos os sentimentos, todos os pormenores, todos os laços...
mas mais um sorriso... mais um sorriso que se manteve até ao último dia... sorriso genuíno, esboçado por cima de tantas e tantas mágoas... sorriso encorajador e tranquilizante...
sorriso que levou todos à descrença... a não compreender qualquer motivo, qualquer razão, qualquer causa... e no fim de contas... tudo batia certo, só o sorriso não combinava...
partiste... e nem pensámos... não imaginávamos que pudesses estar tão mal... afinal... mantinhas o teu sorriso despreocupado...
reflectindo e pensando com mais calma e lógica, de facto... algo se passava... mas continuavas com a mesma energia, a mesma força de vontade, a mesma necessidade de viver... o mesmo sorriso! Sabíamos que algo se passava, sem termos consciência da gravidade da situação...
no entanto... pensando ainda melhor... facilmente concluímos que nunca te deixarias enfraquecer... não era de ti, fazer isso... nunca te deixarias ficar dependente de tudo e todos... nunca... não era de ti...
por isso... vai em paz... parte como sempre viveste - com muita força, muita coragem, muita vida, muita calma, muita energia... e junta-te àqueles de quem também tu te separaste um dia...
de ti... guardarei para sempre o exemplo e o sorriso, até que um dia voltes a sorrir para mim.
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