Já passaram 4 meses desde que cheguei... agora a meta são os 5 meses...
No dia 18 (dia preciso do "aniversário"), tive uma grande dor de barriga depois do jantar... tive que vomitar tudo para ficar melhor... com uma diarreia das piores a acompanhar...
Nesse mesmo dia que tinha sido começado praticamente a chorar de grande frustração... porque nem sempre é fácil "estar em missão", porque nem sempre correspondemos às nossas próprias expectativa, porque nem sempre é fácil viver 24h por dia com alguém que não nos é nada e que vem do outro lado do mundo (ou quase), e ainda porque a tensão pré-menstrual é uma coisa que me afecta significativamente...
Mas lá passaram os 4 meses, vamos a caminho dos 5... e depois vêm os 6, que significa chegar a meio da caminhada... e eu com a sensação de que ainda não fiz nada!
Primeiro porque acredito que a minha missão até agora tem sido de preparação pessoal, de limar as minhas arestas mais difíceis... e só depois de essa tal pessoa voltar para o outro lado do mundo (ou quase) é que vou conseguir projectar a minha missão, a minha experiência, mais para o exterior.
Depois, porque o meu trabalho aqui não é propriamente aquele trabalho que uma pessoa jovem leiga, que parte em missão, idealiza.
Vim de espírito aberto, com a consciência de que deveria estar preparada para fazer o que fosse preciso...
E aconteceu que o meu trabalho aqui é mesmo "fazer o que for preciso", desde estar com a população, a estar com outros missionários, passando também muito por acolher hóspedes (na sua maioria estrangeiros), por preparar encontros, por tratar de algumas questões burocráticas, por cozinhar... enfim, "o que for preciso".
Mas se até certo ponto isso era frustrante e me fazia sofrer, com o passar do tempo fui percebendo que é um trabalho que também tem a sua beleza... e mais importante: que alguém tem que fazer; e neste momento, esse alguém sou eu.
Depois, outro problema é que todos os trabalhos que faço, não têm horários, nem dias certos, e ipor vezes, isso deixa-me um pouco perdida. Porque é acordar, ver o que é mais necessário nesse dia e fazê-lo, e só depois fazer as outras coisas.
Aí entra também o ritmo do próprio país, em que tudo se altera muito facilmente. O que agora é de uma forma, pode não sê-lo daqui a breves momentos.
Mas, no fundo, tudo é uma questão de tempo.
Com o tempo - tempo de estadia, tempo com os outros, tempo connosco mesmos, tempo de choros, de risos, de reflexões - vamos conseguindo encontrar o caminho que devemos seguir para não nos perdermos.
Com o passar do tempo, vamos conseguindo encontrar a melhor forma de lidar com as situações; vamo-nos desconstruindo do que eramos para construirmos um novo eu, mais adaptado àquela que é agora a nossa realidade.
Vamos também conseguindo entrar mais na dimensão da espiritualidade... numa certa mística, que será a nossa segurança nesta nova realidade cheia de inseguranças para o nosso "eu".
É essa espiritualidade que nos permite ser fortes o suficiente para avançar, sem ter medo... e passamos a sentir que de todas as vezes que deixamos de ser místicos, que nos afastamos da nossa espiritualidade, nos sentimos inseguros, e que é aí que desesperamos, pois é aí que deixamos de ter o nosso "porto seguro"; ou melhor, não deixamos de o ter, mas afastamo-nos dele, e quase nos perdemos.
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