Os últimos dias foram de muito trabalho para mim. O cansaço físico e também psicológico foi aumentando e simultaneamente a paciência foi diminuindo.
É bonito conhecer pessoas novas, conviver, ter hóspedes… mas recebê-los, ainda por cima, por vários dias, implica muita calma, paciência, coração e mente abertos e sempre com um sorriso na cara.
É muito difícil! Muito mesmo! Bom, positivo, mas difícil…
Mas torna-se ainda mais difícil quando queremos receber bem as pessoas e não temos meios para isso… quando temos que improvisar, usar a imaginação para tentar remediar e camuflar algumas das faltas de recursos.
E então chega-se a um ponto em que quase atingimos os nossos limites… limites de força, de paciência, de auto-controlo, quase também de sanidade…
Estes dias isso aconteceu-me, várias vezes. Num desses dias, depois de algumas dessas vezes, tive que sair para comprar algumas coisas para melhor “servir” os hóspedes… saí a pé e pelo caminho tive uma experiência “rejuvenescedora”: duas meninas felizes, abraçadas a cantar iam saltitando e sorrindo uma para a outra… uma cena que não teria nada de especial para mim, portuguesa, europeia, não fosse o facto de essas mesmas meninas terem vestidas roupas rotas, meio desajeitadas e muito sujas, com o cabelo meio no ar, e de o “pano de fundo” ser uma terra cor-de-laranja, coberta de lixo e entulho, e ser um pequeno caminho entre duas escolas da cidade de Bafatá, na Guiné-Bissau.
E sorri, com vontade, deixando-me invadir toda por aquele momento que me levou todos os cansaços e faltas de paciência e me fez ter vontade de “começar de novo”, como se os hóspedes não tivessem ainda chegado, mas que teria ainda que recebê-los partindo do zero, com toda a paciência.
De facto, sorri mesmo com vontade, não só porque as meninas sorriram para mim e me acenaram um adeus em mãos de criança, mas também porque pensei que canseiras como as que tive estes dias – não precisava vir até à Guiné para as ter, mas momentos como aquele, nunca me seriam possíveis em Portugal…