Hoje dia 9 de Maio de 2008, se a vida não desse tantas voltas, estaríamos confortavelmente reunidos em família lá em casa, a festejar o 54º aniversário do meu papá.
Mas não estamos, por muitas circunstâncias e acontecimentos, tanto na nossa vida familiar, como na vida de cada um de nós.
Não poderia então deixar de falar do meu pai no dia em que recebi este caderno que fiz questão de inaugurar. Obrigada à Aninhas, que, todos os anos me presenteia com um miminho por altura do meu aniversário, em Abril.
Este ano, por mais uma circunstância da vida, estou longe, muito longe de casa, e só hoje recebi o miminho que não perdeu o valor… aliás, tornou-se ainda mais importante por tudo o que simboliza, por estar longe e com tantas saudades e porque já não era esperado.
Isto de estar longe de “casa” é complicado… tudo assume uma dimensão diferente… e percebemos muitas coisas que não conseguimos perceber quando estamos perto…
Por outro lado, trata-se de uma experiência infinitamente “grande” que nos obriga a um amadurecimento pessoal, que nos pode custar mais ou menos, mas ao qual não podemos escapar.
Estarmos longe da nossa “casa” significa estarmos longe de tudo aquilo que fomos até ao dia em que partimos… e trata-se de um “estar longe” permanente, em que não podemos correr para o nosso lar quando nos sentimos inseguros…
A nossa “casa” é a nossa casa, a nossa família, mas também os nossos amigos, as nossas rotinas, os nossos refúgios, os nossos hábitos… quando partimos é como que se tivéssemos que construir uma nova casa, bem forte (porque lá habitaremos sozinhos até termos segurança para deixar entrar alguém), e essa casa teremos que construí-la sozinhos: procurar todo o material, transportá-lo, colocar tudo no sítio… e sem parar, porque se demorarmos muito, ficaremos sem casa, desprotegidos, expostos a todos os perigos.
Desde que cheguei que comecei a construir a minha casa nova. Projectei um desenho bonito, mas ainda estou apenas nos alicerces. Está a ser difícil… mas consegui alguns ajudantes e tenho uma fonte de energia que não se esgota. Assim, quando fico mais cansada, recorro a essa fonte, e fico revitalizada…as forças voltam e a vontade de terminar a casa rapidamente aumenta… até porque percebo que, quanto mais tempo demorar a construir a minha casa, menos tempo habitarei dentro dela.
E é assim, falando de construções que termino o meu primeiro registo neste caderno.
Voltarei a escrever para descrever o decorrer das obras da minha “casa”.
Como tinha dito, vou postar alguns dos textos escritos na Guiné... com as datas em que foram escritos.
Boas leituras, bons sentimentos.
Anjo da Noite
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