Viver...
Mentes preenchidas…
Almas sonhadoras…
Vamos vivendo o dia a dia alimentando-nos de sonhos, projectos, ideias, vontades, …, que reformulamos a cada dia que passa… que alteramos, repensamos, desistimos, recomeçamos do zero…
E demasiado ocupados com o nosso pequeno mundo, com as nossas coisas, não nos apercebemos que à nossa volta, enquanto sonhamos e planeamos, milhares de coisas acontecem… e simplesmente… não tomámos atenção…
Subitamente, há uma vontade enorme de se fazer tudo aquilo que se foi adiando ao longo dos anos, porque se pôs para segundo plano em consequência de termos construído um pedestal para os nossos projectos pensados e repensados…
De um momento para o outro temos vontade de estar com aqueles amigos de sempre, com quem fomos adiando encontrar-nos porque estávamos demasiado ocupados com os novos “amigos” que faziam parte dos nossos projectos…
Sem avisar, chega um momento em que temos vontade de ver todos aqueles filmes que gostávamos de ter visto mas que deixámos de ver por termos dado mais importância a… já nem nos lembramos a quê!
Temos vontade de passear, de conhecer todos os sítios, todos os lugares que algum dia achámos bonitos…
Temos vontade de dizer a toda a gente que estamos bem, porque estamos vivos, hoje, e não queremos conflitos, intrigas, discussões… não valem a pena!!!
Temos vontade de dançar, de nos divertirmos, de rir, de sorrir… e vontade de nos aplicar naquilo que são os nossos papéis…
Desejamos não ter que dormir para poder viver mais!
E tudo isto como um furacão! Queremos tudo isto ao mesmo tempo! Queremos viver! Ao máximo! Cada segundo, cada milésimo de segundo das nossas vidas! O tempo não pára, e não queremos desperdiçar nem um momento!
E percebemos que algo em nós mudou… a nossa maneira de olhar a vida… de a agarrar… a intensidade com que vamos vivendo todos os momentos por que passamos… o desejo de quebrar todas as rotinas das nossas vidas… a necessidade de amar… de amar da forma mais pura e com mais garra toda a nossa existência, todo o decorrer da nossa caminhada, todas as pessoas que realmente contam… que estão no coração…
E vemos que já não somos tanto aquelas crianças inconscientes que tudo querem e que permanentemente fazem planos para conseguirem o que querem…
Temos essas crianças em nós, mas agora pela pureza do amor que dedicamos a cada segundo do nosso dia, tal como ele acontece… É uma forma pura de amar porque deixamos de exigir… e já não choramos se esse segundo não aconteceu como nós tínhamos pensado e como nós queríamos que acontecesse…
Porque vem o medo…
Medo de que a vida esteja a passar por nós… e nós estejamos sentados… confortáveis… a vê-la passar… sem a vermos realmente – sem contemplarmos a sua beleza e o seu valor… e pior…
Sem a vivermos!
Nao consigo dominar
Este estado de ansiedade
A pressa de chegar
P'ra nao chegar tarde
Nao sei de que é que eu fujo
Sera desta solidao
Mas porque é que eu recuso
Quem quer dar-me a mao
Vou continuar a procurar
A quem eu me quero dar
Porque até aqui eu só:
Quero quem quem eu nunca vi
Porque eu só quero quem
Quem nao conheci
(...)
Esta insatisfacao
Nao consigo compreender
Sempre esta sensacao
Que estou a perder
Tenho pressa de sair
Quero sentir ao chegar
Vontade de partir
P'ra outro lugar
Vou continuar a procurar
A minha forma
O meu lugar
Porque até aqui eu só:
Estou bem aonde eu nao estou
Porque eu só quero ir
Aonde eu nao vou
(...)
Porque eu só estou bem
Aonde nao estou
No decorrer deste mistério que é a vida, muitas vezes sucede que nos sintamos caminhar na direcção contrária... Na direcção contrária aos nossos princípios, aos nossos valores e mesmo às nossas vontades.
A verdade é que, na realidade pensamos e sentimos que estamos a ir na direcção certa, sentimos que o que fazemos é o que queremos, e culpamos os outros de não serem aquilo que desejámos que fossem, o que idealizamos e, posteriormente, acreditámos que fossem...
Agimos... e depois pensamos, ao invés do contrário, do correcto.
E a isso chamo desencontros.
Desencontros daquilo que somos com aquilo que pensamos ser; desencontros da nossa essência com a imagem que assumimos...
E desses desencontros fazemos amizades, criamos interesses, mas todos trocados. As pessoas acabam por rodear-nos apreciando aquilo que parecemos ser... acabam por não nos conhecer realmente... e acabam por querer de nós o que não lhes queremos dar, e por não nos dar o que realmente queremos.
Desencontros puros e concretos... desencontros de vontades e de disponibilidades... desencontros nascidos do sonho, da idealização, da busca do que não existe... desencontros que criamos para nós próprios e que apenas nós podemos “desmascarar”, “denunciar” e “abolir”... Desencontros que aparentemente nos fazem felizes... e nos fazem sentir bem... contudo... logo percebemos que se trata de uma felicidade pobre, sem raízes, do momento... que rapidamente desaparece. E por isso mesmo, lhes chamo desencontros...
Desencontros do querer com o fazer... da ansiedade com a aparência... da realidade com a verdade... Desencontros cruéis, espontâneos, poderosos, influentes, e muito marcantes...
Desencontros que ao fim e ao cabo não passam de encontros de vontades diferentes, de medos diferentes, de pensamentos diferentes que acabam por se fundir e dar origem a momentos aparentes de sintonia... e só depois, depois... depois é que se pensa e se analisa e se reflecte e se percebe que nada havia de comum – foi apenas mais um desencontro.
Um desencontro malvado que só faz sofrer e identificar a dificuldade que temos em entender os nossos próprios pensamentos, as nossas próprias vontades e a maneira como ansiosamente organizamos as nossas acções de modo a que tudo bata certo...
E nada está certo... tudo está fora do sítio... e tudo nos traz conflitos porque nada é feito como deve ser... e como deve ser significa: como os nossos princípios e os nossos valores mandam... como deve ser significa: ver o que realmente sentimos e pensamos e só depois agir...significa: elevar a pureza dos nossos sentimentos e a clareza dos nossos pensamentos de modo a fazermos aquilo que queremos na verdade e que, por isso mesmo, nos faz bem...
Mas a vida é mesmo assim... temos o instinto da sobrevivência – de decidir no momento o que fazer, porque, no momento, é o que nos fará “sobreviver”... E no fim de contas, o problema é mesmo esse: sobreviver para aferir mais um desencontro...
Quase me sinto nervosa...
Afinal, acabo de "criar um blog" - coisa tão "in" nos nossos dias...
Acontece que sempre escrevi alguns textos - com mais ou menos qualidade, depende dos gostos - mas nunca os partilhei, embora gostasse.
Assim, pensei que esta seria a melhor forma de o fazer... para já, não me vou identificar, porque não o pretendo... talvez um dia o faça...
Apesar de ser um blog pessoal, sobre uma "partilha de sentimentos" pessoal, com certeza que mais tarde ou mais cedo outros posts, com outras partilhas, farão parte deste blog.
Feitas as apresentações necessárias, vamos lá começar com isto...
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