Viver por viver, viver porque sim.
Viver, indiscutível... mas, para quê? Haverá sempre uma meta a alcançar? Haverá sempre um caminho a percorrer?
E quando não há? Porquê a angústia de uma incerteza cruel, o sentimento de nos termos perdido?
E quando as forças acabam? Simplesmente porque não há motivo para gastar energias! Quando se perde o norte, porque o norte se torna igual ao sul... Quando deixa de se questionar, porque não há interesse em obter respostas; quando deixa de se sorrir, porque sorrir deixa de ser especial...
Será possível tamanha indiferença perante a vida? Perante o dia-a-dia? Perante cada respirar, cada olhar?
Será possível viver assim, só por viver... sem objetivos, sem anseios, viver o nada?
A vida assim não tem sabor... mas porque tem que ter? Quanto mais sabor lhe queremos retirar, mais sofrimento lhe temos que dar; então, para quê?
Cansada de viver, talvez. Talvez cansada de viver tanto para produzir tão pouco... cansada de sonhar, de acreditar, de voar para depois acordar, desiludir, caír.
Ficar parada não será a melhor atitude... mas para quê avançar? E para onde?!
Vaguear.
Caminhar, correr, andar...
Buscar sem saber bem o quê, sabendo que é mesmo isso que se quer encontrar.
Ouvir... escutar, guardar, e calar.
Deixar-se levar pelo vento, por vezes bem forte; outras vezes quase sem se sentir. Vento que abala, ou simplesmente embala.
Seguir por caminhos desconhecidos, por vezes entediantes, outras vezes emocionantes; ou seguir por caminhos conhecidos, muitas vezes entediantes, muitas vezes impostos, outras vezes seguros e pacificadores.
Dar, outras vezes receber. Esgotar-se e esgotar... cansar, cair, parar. Perder-se do seguimento da viagem... e novamente seguir, correr, encontrar.
Sempre, em ciclos mais ou menos regulares.
Girar, desconhecendo os detalhes da rota, apanhando bagagens perdidas noutras voltas e largando outras. Olhar em frente, ver o fim, outras vezes o princípio.
Tudo é relativo, tudo é incerto. No entanto, tudo se repete de forma irrepetível. Cada ser a seu modo; cada coisa a sua forma; cada processo o seu procedimento; cada gesto a sua definição.
E no fim, no fim de tudo, todos iguais.
Rio Gêba, Bafatá, GB
A noite está calma, em paz.
A serenidade sente-se na singularidade dos seres adormecidos... Está luar e as estrelas acentuam-se intensamente no escuro do céu.
Pelo ar, apenas fantasmas vagueiam solitários... procuram quem os acolha e sabem onde procurar.
Ouve-se o vento, ao de leve... de mansinho... pacífico, mas com uma tremenda vontade de soprar, de correr, de gritar...
A Natureza permanece... assim... muda e quieta... à espera. Espera o fim da noite, espera a partida dos fantasmas, espera o sol. Imensa, infinita, mãe e senhora de tudo, mas humilde, calada, submissa. Assim permanece... porque assim quer permanecer. Tudo controla, tudo origina e tudo abarca... mas não se incomoda e espera.
Espera e volta a esperar, porque sabe que o ciclo é perfeito e depois do fim vem um novo príncipio.
Mas cala-se e chora em silêncio. Chora porque tudo conhece, tudo presencia e tudo sente.
Não deixa que ninguém a veja chorar, mas chora - de tristeza, angústia e medo. Ela sabe que até ela, poderosa, majestosa, tudo controla e tudo sabe e talvez por isso permanece. Quieta e silenciosa.
Tenho medo de estar a tornar este blog num poço de depressão... mas, de facto, tem sido um amigo fiel que me dá alguma segurança... e o que tenho para partilhar hoje não é muito diferente do que tenho partilhado nos últimos tempos.
Estou triste. Estou frustrada. Sinto-me mal comigo mesma. E continuo a sentir-me egoísta.
Por vezes, tiramos conclusões na nossa vida que nos fazem perceber em que ponto estamos, qual o sentido da nossa vida e qual o motivo da nossa existência e isso faz-nos traçar o nosso caminho e prever como será o resto da nossa vida.
Não é positivo que isto aconteça, mas mesmo tendo consciência de que a vida muda de um dia para o outro, mesmo sabendo que aquilo que é certo hoje, amanhã pode não ser, há certos aspectos que se vão encaixando e revelando e as coisas vão-se definindo.
Neste momento vivo sozinha com a minha mãe... porque "falta o papá" como partilhei já anteriormente... e neste momento estamos a atravessar mais uma fase difícil com uma doença que surgiu no caminho da minha mãe.
Com tudo o que isso significa, faz-me sentido estar aqui para ela, acompanhando-a em tudo o que puder e sendo verdadeiramente filha dela. Nem sempre é fácil e nem sempre o consigo fazer da melhor forma, mas faz-me sentido que essa seja a minha prioridade hoje, tal como amanhã.
E é aqui que entra o meu egoísmo.
Neste momento, tenho que abstraír-me daquilo que são as minhas vontades e os meus sonhos e tenho a triste sensação de que este momento se prolongará para o resto da minha vida, porque estou na fase da vida em que temos tudo na mão e podemos decidir tudo... e eu não posso decidir nada, porque tenho a sensação de que já foi decidido por mim.
Porque não sair deste país, partir para uma aventura, arriscar, viver? Não tenho nada que me prenda... não tinha!
Porque não outra cidade, outro trabalho, outra formação? Não tenho nada que me impeça... não tinha!
Família é família, sempre! Nos maus momentos como nos bons. Mas claro que se a família está bem, é mais fácil afastarmo-nos, porque mesmo longe estamos perto. Mas se a família está mal, não podemos afastar-nos caramba! Temos que estar presentes.
Há que engolir em seco... acreditar que talvez o nosso caminho passe por aqui, talvez se possa arriscar um dia... talvez arriscar não seja para nós...
Mas... e sonhar? Não é o sonho que comanda a vida? Temos que sonhar! Mas como sonhar assim? Como pensar em nós e na nossa vida quando fazemos parte dos pensamentos e da vida de outras pessoas e quando essas pessoas precisam de nós?
Que se passa comigo?
Onde ando eu?
Talvez demasiado centrada em mim mesma...
Talvez tenha esquecido os outros à minha volta por buscar apenas neles uma forma de eu estar bem...
Talvez tenha abandonado a máxima de ver os outros bem para poder eu própria estar também bem...
Preciso de mudar... digo isso todos os dias... sinto-o...
E, de facto, todos os dias eu mudo... mas não são as mudanças que pretendia fazer... continuo a ser a mesma em todos os pontos fracos que tenho... e pior, alimento-os... dou-lhes importância... e mais uma vez... esqueço os outros, esqueço quem está à minha volta...
Como odeio ser assim... e não é que me odeie... nem que tenha ideias depressivas... a questão é que tenho o meu próprio castigo, porque eu o crio... porque se não estou bem, é apenas por causa da forma como sou.
E sou egoísta.
Hoje apetece-me chorar. Sem questionar. Apenas chorar.
Chorar, porque me apetece... por tudo e por nada... porque certamente não estou bem, mas certo é que também não estou mal.
Apetece-me chorar em parte porque não tenho um abraço, porque não tenho um sorriso, porque não tenho um olhar...
Apetece-me chorar porque hoje sinto-me sozinha.
Apetece-me chorar como se ao caír da noite me tivesse perdido na floresta que percorria todos os dias... como se, naquela floresta que conhecia como a palma da minha mão, me tivesse deixado levar pelos detalhes, me tivesse dístraido com os pequenos obstáculos do caminho, e de repente, quando dou por mim, perdi-me, e estou sozinha.
Sinto medo... da escuridão que me envolve, e dos sons que reconheço, mas que a minha imaginação teima em distorcer e fazer parecer estranhas criaturas. Medo de dar um passo, pois apesar de conhecer o caminho, quem sabe se não se alterou desde a última vez que ali passei, e agora não o vejo!
Quero ir para casa, para a minha casa, mas não consigo perceber o que se passa à minha volta... preciso de uma voz que me chame, de uma mão que me puxe, um abraço que me envolva, um sorriso que me acalme e um olhar que me dê segurança.
E não tenho.
Não tenho.
Porque é que uns dias nos sentimos tão bem, como se tivéssemos a vida na palma da mão, e nada nem ninguém nos pudesse abalar, e noutros dias nos sentimos um autêntico bandalho... sem valor nem interesse, que tantos defeitos tem quantos vai descobrindo ter...
Porque é que numa hora nos sentimos fortes, seguros, com todas as certezas do mundo e na hora seguinte caímos, quebramos, estilhaçamos!
Porque é que num minuto temos o mundo e o mundo pertence-nos e no minuto a seguir sentimos que o mundo nos passou ao lado e perdemos a viagem?
Crescer? Talvez...
Mas porquê tanta procura, tanta ânsia por mais, tanto desprezo pelo que se tem em função da busca do que se quer ter?
Porquê buscar algo mais quando o que se tem é tão bom? Porquê identificar necessidades onde antes víamos potencialidades?
Porquê metermo-nos em caminhos deconhecidos, obscuros, contraditórios, se o que buscamos já o temos?
Porquê caír e ficar deitado, se apregoamos a importância do levantar?
Porquê tanto porquê, quando sentimos que conhecemos todas as respostas?
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